quarta-feira, 17 de novembro de 2010


O GALO VERMELHO de Tenini

O galo deve ter fugido da degola na hora do batuque, que semanalmente se realiza na rua dos fundos da minha casa .



Quem se arriscaria a pegar galo de batuque? Nem eu nem ninguém a quem perguntava. Assim, ele permaneceu livre, dono da rua e das matas adjacentes por mais de sete meses. Já taludo, muitas vezes

eu o via pulando de árvore em árvore, livrando-se de algum bicho inoportuno.

Parecia um gavião vermelho, cuja crista ondeava escarlate feito coroa sob o sol da manhã.

Gostava de entrar pelas grades do portão para ciscar no meu jardim, aproveitando-se do descuido dos cães, aflita eu gritava: "Xo xô , galinho, xo xô.." para que não fosse apanhado pela máfia canina.

O galo costumava, ainda, brindar-nos com calorosos e tonitruantes corococós, às quatro de la matina , infernizando alguns moradores sonolentos, mas, a mim, deliciando como serenatas de Romeu...

Soube que alguns moradores tramavam a condenação do galo. Espingardas de chumbo grosso, facões e até laços de gaúcho foram preparados, numa sentença implacável, mas acabaram desistindo

porque espalhei o boato de que quem se atrevesse a matar o galo, seria vítima de terrível maldição...

Certa vez, pensei em arrumar-lhe uma galinha, de olho nos ovos, mas depois de observá-lo bem, concluí que teríamos maiores encrencas. O galo tinha um belo porte capaz de virar a cabeça de qualquer galinha

metida a besta, mas tinha ares filosofais dos solitários...

Um galo que pensa não é tão comum e uma galinha por perto, cacarejando o tempo todo, convenhamos, perderia a paciência e o bom humor. Mais adiante, teria de aturar brigas de galinhas às esporadas.

Afinal, sendo um galo espirituoso, não dado a tricas e futricas, acabaria por se indispor com o sexo oposto. Também não tinha vocação para cuidar dos pintos, já que não havia cerca para agrupá-los, além de ter

de assumir responsabilidades, cassando-lhe a liberdade de ir ,vir ... Sem contar que teria de dar mais trepadas do que tivesse vontade.

Um dia, o Galo de Batuque não cantou de madrugada.

Saí à procura pelas redondezas, ninguém vira e, ante a minha insistência, todos olhavam-me desconfiados. Juro que cheguei a ver alguém estalando os dedos. ( pensariam que fosse eu, a batuqueira ?)

Fiquei a matutar, o galo teria cansado da solidão ? teria encontrado alguma galinha fuleira que o desencaminhara ? Fora pego pela turma da macumba ? Fora um enlouquecido vizinho que o fuzilara ?

Ou foi parar na panela de algum incrédulo ? Talvez fosse aquele vigia de obra quem papou o galo, porque, logo depois, deu um azarão na vida dele. A firma quebrou, foi despedido e andou às voltas com a polícia,

por roubo de galinhas.

O certo é que o desaparecimento do galo, deixou-me sorumbática... pois, Meninas, quando se dobra o Cabo da Boa Esperança, cantada de galo, só de batuque mesmo...

terça-feira, 9 de novembro de 2010


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Tenini

NOSTRADAMUS.
Percebe-se que as pessoas, devido às dificuldades que atravessam, tendem a buscar soluções mágicas para seus problemas, então, acreditam em tudo que os oportunistas da ilusão comercializada publicam .
Parece existir máfias que se aproveitam da ingenuidade do povo, tão sofrido em suas dificuldades. E é uma fatia editorial que está rendendo muito aos pseudos“magos” com alguma facilidade para escrever.
Lembramos Nostradamus, em suas profecias, que sempre foram objetos de especulações e as previsões, comparadas aos fatos acontecidos, são fruto mais das mentes distorcidas das pessoas que procuram enquadrar o que pensam dentro das palavras que foram escritas pelo famoso “adivinho”.
Nostradamus nasceu em Saint-Rémy, Provence, na França, em 1503 e dicidira ser médico. A sua formação foi um tanto atabalhoada, mesmo assim, granjeou prestígio entre os camponeses , quando grassou uma febre bubônica e teve um razoável desempenho, que lhe trouxe respeito até entre colegas.
Paralela à medicina, Nostradamus voltou-se para as práticas místicas. Passou a observar os fenômenos astrológicos que o levaram a se proclamar como adivinhador do futuro. No início, limitou-se aos almanaques astrológicos, prática comum na época, para prever o tempo e as fases da Lua. Em 1555, publicou as Centúrias, que tiveram sucesso imediato, por usar, deliberadamente, forma de expressão enigmática propondo adivinhações que atravessariam os séculos até 3797!
Seus textos deixavam margem a que os observadores críticos pudessem fazer as mais diversas interpretaçôes.
A rainha Catarina ,da França, ingenuamente, deixou-se levar por ele que era o médico de seu filho, o rei Carlos IX . Com isso, passou a fazer horóscopos para a família real, mas sempre com o cuidado de não desagradar seus protetores, pois a guilhotina rondaria. (Hoje, em publicações jornalísticas, os “videntes” bajulam os protetores em troca da visibilidade e do emprego.)
Muitos contemporâneos ilustres de Nostradamus, entre os quais um dos maiores poetas franceses, Pierre de Ronsard, conservaram-se céticos a respeito de suas profecias ou, pior, consideravam o vidente um charlatão esperto que explorava a credulidade das pessoas.
Na verdade, a sua linguagem enigmática, escrita em várias línguas, ensejou mais de 400 interpretações diferentes . Só que hoje, vemos multiplicados aproveitadores da ingenuidade pública, que mascarando-se no ocultismo e outras denominações, investem na linguagem explícita de assédio, sedução e sexo, visando o lucro fácil do modismo e que vem infestando mídias faladas e escritas, tirando espaços para assuntos verdadeiramente necessários ou importantes e que deveriam ser abordados num país tão cheio de problemas, carente de soluções para as questões sociais.
Enfim, tolos existem e esta fatia deverá ser contemplada por eles.
Penso que a esperança é a que nos anima a prosseguir nas lutas pela sobrevivência, em tempos difíceis, mas acreditar nas previsões dos oportunistas, é ingenuidade , para não dizer outra palavra muito conhecida que se inicia com a letra b.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


SÃO PAULO. ( 08/11/2010)

Há pouco estive em São Paulo para o níver de uma netinha.

Além dos festejos, almoçamos e jantamos em restaurantes de shoppings e gostei muito dos menus dos locais escolhidos pela minha filha.

Em um deles, cujo nome não guardei, flagrei um jovem casal e o músico que se encontrava ali, como costumo fazer no shopping que frequento em Porto Alegre.

Há alguns anos desenho e aquarelo cenas de shoppings e já tenho perto de mil cartões coloridos.

Não é uma compulsão, mas estudos sobre as pessoas que vejo, expressões etc.

Diziam os antigos que quando um artista retratava pessoas, eram chamados de bruxos.

Devo ser um bruxa, então...

Como a arte visual tem campo de trabalho exiguo, em termos de rentabilidade, não fico me aventurando em grandes gastos.

No futuro, meus cartões aquarelados poderão servir de estudos sobre uma época , nos finais do século XX e início do século XXI.

Assim, não considero meu trabalho perdido.

Insiro aqui o cartão que fiz, na minha última estada em São Paulo